É por isso...

Desse tempo venho eu. E não que tenha sido melhor.... É que não é fácil para uma pobre pessoa, que educaram com "guarde e guarde que alguma vez pode servir para alguma coisa", mudar para o "compre e jogue fora que já vem um novo modelo". (Eduardo Galeano)

sexta-feira, 25 de janeiro de 2013

Reciclando coisas, reciclando vidas



Ando meio afastada das minhas sucatas e das artes. Uma lesão no tendão do braço direito me segura quieta por ora, mas não por muito tempo, já me sinto melhor. Então para movimentar o blog, compartilho este artigo, do Edson Martins, escrito em 2006, por ocasião da visita que fizemos ao projeto.

Irmã Ivete de Jesus é uma daquelas personagens que, se não existissem, deveriam ser inventadas. Olhos espertos e mãos intranqüilas, Irmã Ivete, à primeira vista, não se enquadra muito naquela imagem conservadora que fazemos de uma religiosa. Nada de hábito negro ou suavidade na voz. Ao contrário, em seus trajes civis ela é assertiva e determinada. 

Eu a conheci quase que por acaso ao visitar na semana passada a Casa “Cor da Rua”, um projeto apaixonante da OAF – Organização de Auxílio Fraterno, idealizado por ela e pelo padre Júlio Lancelotti e que funciona desde Dezembro de 2003 no bairro da Liberdade, em São Paulo. 


 Ao chegar na sede da Casa Cor da Rua sou recebido pela jovem Deiane, que conta sua história, igual a de tantos outros que passam pelo projeto. Lá, aprendem técnicas de restauração, mosaico e reciclagem com os facilitadores. Muitos deles também serão facilitadores no futuro, num fantástico programa de inclusão. 

Enquanto passeio pelos cômodos do sobrado doado por uma família italiana, um pequeno oásis em uma área degradada da cidade, aprendo mais e mais sobre reciclagem e o trabalho desenvolvido por jovens em situação de risco social e moradores de rua. Materiais improváveis são utilizados, ou melhor, reutilizados: bagaço de cana, latas de sardinha, tudo se aproveita. 

Segundo Irmã Ivete, que conheço somente nos minutos finais da visita, a idéia é mostrar o talento, a criatividade e a capacidade de produção do povo de rua com matéria-prima que vem do descarte urbano. Visito também a lojinha da Casa, com dezenas de objetos reciclados e a preços convidativos. Em momento algum me senti pressionado a comprar algo pela minha jovem cicerone. Ela parece muito mais interessada em conquistar meu coração do que meu bolso. 

Não resisto e compro uma caixinha para guardar incenso, nem tanto por precisar de uma, mas porque achei que comprar um objeto era a melhor maneira de dizer o quanto a Casa Cor da Rua havia mexido comigo. E a esperta Deiene, quem diria, conseguiu conquistar meu coração para o projeto. 

CASA COR DA RUA 
Rua dos Estudantes, 483/491
Tel. 3208-5096, 3272-9724