É por isso...

Desse tempo venho eu. E não que tenha sido melhor.... É que não é fácil para uma pobre pessoa, que educaram com "guarde e guarde que alguma vez pode servir para alguma coisa", mudar para o "compre e jogue fora que já vem um novo modelo". (Eduardo Galeano)

quinta-feira, 1 de junho de 2017

RECEITA



Ingredientes

Um espelho faltando um pedaço, resgatado do lixo.
Uma moldura resgatada do descarte.
Flores recolhidas da faxina de uma amiga.
Massa corrida e tinta.

Modo de fazer

Preste atenção à sua volta, recolha aquilo que tocar seu senso artístico.

Junte tudo com algumas quinquilharias esquecidas naquele depósito de "não serve pra nada".

Visite brechós.

Acrescente criatividade, alegria, gosto do fazer.

Talvez não sirva para nada, mas ocupa sua mente e o faz trabalhar. Afasta os maus pensamentos e quem sabe, um dia, alguém se encante e poderá até presenteá-lo.

Um dia qualquer em 2015

Dia desses estive nos Jardins, mais especificamente na Rua José Maria Lisboa no trecho compreendido entre a Avenida Nove de Julho e a Gabriel Monteiro da Silva. Área nobre, belas moradias e uma fauna sui generis. Jovens mães  acompanhadas de crianças uniformizadas, com shorts exageradamente curtos em dissonância com os cabelos, coloridos de branco prateado a la Meryl Streep em “O Diabo veste Prada”.  Acho que é moda e se for não incomoda. Eu particularmente sou fã dos cabelos in natura e  ao encontrar amigas que assumem as madeixas brancas ou grisalhas, me encanto. Elas adquirem um ar respeitável e distinto.

Numa esquina, um faxineiro lavava a calçada com uma dessas máquinas que aumentam a pressão da água, como se a crise hídrica fosse uma alucinação coletiva, enquanto um senhor, alienado ao celular, levava nas coleiras três cachorros - reparei na beagle - que  diferente dele, tudo observavam, cheiravam, viviam o passeio.  Aliás, as pessoas passavam por mim falando sozinhas,  sim, sozinhas, pois o interlocutor não estava presente embora elas gesticulassem como se tal acontecesse.

Mas o melhor de tudo eram as caçambas. Não sei se foi sorte ou azar estar a pé. Mas de qualquer maneira um carro comum seria pouco pra garimpagem. Como se desperdiça neste país! 

Por causa da última caçamba, antes da Gabriel Monteiro da Silva, passei o laboratório para onde me dirigia e como era do outro lado da rua, pude lamentar bem de perto sobre  um gaveteiro de madeira maciça, que me acenava da caçamba.


 -  Sinto muito, hoje não vai dar!