Meu pai, extremamente organizado em se tratando de sua
oficina - "para cada serviço use a ferramenta adequada, faca de cozinha
não é chave de fenda", recomendava sempre - separava todos os itens e
guardava em latas, vidros e caixinhas. Estas, ele mesmo confeccionava com
sobras de madeira. Rústicas, com várias imperfeições de superfície, mas
sólidas.
Ao desmontar a oficina, doei muita coisa, porém ao ver
aquelas caixinhas, sujas de pó e graxa de uma vida, mas montadas perfeitamente
com todos os ângulos retos, senti o capricho de seu Walter naquelas peças e
decidi fazer delas, em sua homenagem, pequenas obras de arte, dentro da minha
parca capacidade.
Lavei-as com sabão e escova - resistiram, são de
madeira maciça; preenchi as irregularidades da superfície com massa corrida,
tratei com cola branca para fixar a massa e deixei rolar a imaginação para
deixá-las como estão, usando apenas materiais disponíveis nas minhas sucatas,
obedecendo a lição aprendida: "Nunca desperdiçar nada".